Ecologia profunda

“green tree on the forest” by Dhruva Reddy on Unsplash

Saiba de onde vem o “eco” da eco-anarquia


O filósofo norueguês Arne Næss criou o conceito de ecologia profunda em 1973 como uma alternativa à ecologia convencional, pautada no utilitarismo. A ecologia convencional trata o seres naturais pelo seu valor de uso para os seres humanos. Por exemplo, uma floresta precisa ser preservada porque dependemos dela para obter recursos.

Næss foi influenciado pelo pensamento sistêmico, adotado por autores como o físico teórico Fritjof Capra em A teia da vida (1996), onde afirma: “O ambientalismo superficial é antropocêntrico. Vê o homem acima ou fora da natureza, como fonte de todo valor, e atribui a natureza um valor apenas instrumental ou de uso. A ecologia profunda não os separa.”

Defendendo que a natureza tem valor intrínseco, a ecologia profunda questionou a visão hegemônica de mundo de que as questões éticas da ecologia dizem respeito unicamente ao homem, o único agente moral capaz de avaliar racionalmente sua própria ação. Os interesses de outros seres, não sendo comunicáveis para a comunidade moral, teriam que ser representados por humanos interessados em defendê-los.

Tal perspectiva submete a atividade da biosfera à atividade humana, ou mais precisamente, à esfera da racionalidade instrumental ou utilitária. A “ecologia rasa” se define como “o estudo das interações entre os seres vivos e destes com o ambiente”. Tal definição implica na divisão entre o sujeito que estuda (o ser humano) e o objeto a ser estudado (os seres vivos).

A ecologia profunda considera que o ser humano é um elemento comum do ecossistema, sem nenhum privilégio epistêmico. Sendo assim, a ecologia não pode prescindir de uma consideração ética da ecologia humana, da participação do ser humano na natureza. Uma das conclusões é que tudo que foi construído com base no suposto privilégio humano precisa ser reavaliado. Como o avanço técnico civilizacional possibilitou um crescimento exponencial da intervenção humana sobre a natureza, esta agora precisa não apenas ser recalculada quantitativamente, mas reconsiderada qualitativamente, em termos de seus fundamentos éticos.

Justiça para todos os seres vivos

A ecologia profunda preza pela igualdade jurídica entre as espécies e questiona o pressuposto metafísico do domínio humano sobre a natureza. A visão que legitima o domínio do homem sobre o mundo tem origem religiosa e foi secularizada na modernidade, se transformando na ideia de que a natureza é “fonte de recursos” para a satisfação de nossas necessidades.

A ética da ecologia profunda também desafia o paradigma econômico no qual o desenvolvimento das condições materiais é considerado como base determinante do desenvolvimento das sociedades humanas. Ela se contrapõe à crença na automação tecnológica como única fonte de abundância material. O progresso tecnológico, seja centralizado ou não, fere os limites éticos da ação humana não por uma questão de impacto ambiental, mas por uma questão de princípio. A sociedade enquanto projeto técnico implica num determinismo técnico, não apenas histórico e materialista, que contradiz o biocentrismo. A ecologia profunda também rejeita a proposta globalizadora e mercantil do “desenvolvimento sustentável”.

Enquanto muitos adeptos de filosofias new age aplicam o conceito da ecologia profunda dentro de um estilo de vida e ou de uma espiritualidade, eco-anarquistas como o earth first se apropriaram da crítica à ecologia para fundamentar estratégias políticas de libertação da terra. Esta corrente porém se encontra bastante deslegitimada pela esquerda, por conta de abusos de líderes de movimentos, associações equivocadas com ações violentas e desorganizadas e conflito teórico.

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