De volta ao básico

Baseado no texto Back to Basics que foi publicado na Revista Green Anarchy número 14, em 2013. É uma introdução às questões básicas da crítica à civilização.


 “Com tudo o que está acontecendo no mundo, por que estes fanáticos selvagens, estes refugos do anarquismo, estes ecologistas extremistas, estes anunciadores do caos mascadores de granola, precisam gastar tanto tempo atacando a civilização?”

Parece loucura criticar a civilização em si. A maioria das pessoas não chega nem a criticar o capitalismo. Menos ainda compreendem a teoria marxista, quem dirá as diversas teorias anarquistas, e pior, discussões marginais dentro do próprio anarquismo… As coisas não parecem boas para quem quer criticar a civilização, mas as coisas podem mudar mais rápido do que imaginamos. Não saberemos se esse debate vale a pena ou não, a não ser que ele comece de fato.

Anarquistas anti-civilização lutam por uma realidade completamente diferente, porém já experimentada por seres humanos: uma realidade não tecnológica, não colonial, não fascista, não patriarcal, não capitalista e não civilizada. Essas coisas nos afastam de nossa humanidade e queremos voltar a ser humanos. Sentimos que é necessário voltar a algumas questões fundamentais: Onde nós estamos? Como chegamos aqui? De onde viemos? E para onde estamos indo?

Acreditamos na autonomia e na saúde como condições naturais da vida humana. Longe da influência da civilização, os seres humanos vivem num modo de vida que podemos chamar de anárquico. Durante a maior parte de nossa história nós vivemos em agrupamentos de pequena escala, onde as decisões eram tomadas cara-a-cara, sem mediação ou representação. Nós sabíamos o que podíamos comer e o que podia nos matar, o que nos curava e o que nos adoecia. Sabíamos onde e como conseguir tudo que precisávamos e sabíamos viver em comunidade. Nós éramos parte do mundo à nossa volta, nós sabíamos como viver. Não havia a separação artificial que a civilização cria entre nós e o resto da vida.

A civilização é muito recente em relação à história humana como um todo. Tudo começou quando alguns agrupamentos começaram a confiar menos na terra como provedora de vida, e começaram a criar uma distinção entre eles mesmos e a terra. Esta separação é o fundamento da civilização. A civilização não é simplesmente material, ela é uma orientação, uma mentalidade, um paradigma. Ela é a crença de que podemos e devemos obter controle sobre a natureza para viver melhor.

O principal mecanismo de controle da civilização é a domesticação. A domesticação é o amansamento, a reprodução seletiva e a modificação da vida para um benefício exclusivamente econômico. O processo de domesticação afastou os humanos do modo de vida originário, em direção a uma existência civilizada, criando a propriedade da terra e o acúmulo de poder. A domesticação é um relacionamento totalitário com as plantas e os animais e, finalmente, com os outros humanos. Domesticação é a base para a dominação. Ela é uma força colonizadora, criadora de doenças físicas e mentais, degradante e alienante.

Um passo fundamental no processo civilizatório é o movimento em direção a uma sociedade agrária. A dependência de agricultura cria uma paisagem domesticada e um modo de vida baseado em produção e consumo. O agricultor é o primeiro a tentar controlar os ciclos da natureza para benefício próprio. A agricultura está relacionada ao patriarcado. A noção de propriedade da terra e a produção de excedentes cria uma dinâmica de poder nunca antes experimentada, que conduz à hierarquia institucionalizada e à guerra organizada.

Este modo de vida se espalhou pelo mundo por meio de conquista e assimilação ideológica. Os resistentes são chamados de selvagens, bárbaros, vândalos… Muros são levantados para mantê-los isolados. Civilizados acreditam que as coisas sempre foram assim, mas de alguma forma sabemos que isto não está certo. A luta contra a civilização sempre existiu. Onde houver civilização, haverá resistência.

A civilização declara guerra às mulheres, aos pobres, aos povos indígenas e aos animais selvagens. Aos olhos da civilização, essas coisas precisam ser controladas pois são recursos a serem usados com uma finalidade econômica.  A civilização é a imposição da razão colonizadora sobre a vida natural.

O processo civilizatório se tornou mais refinado e eficiente com o passar do tempo. O capitalismo se tornou o seu modo de operação preferencial. O planeta inteiro foi mapeado e as terras foram cercadas. A dominação do Estado e da Igreja substituiu parte da violência civilizatória por uma benevolência de fachada e conceitos como cidadania e democracia. Tudo isso dependeu da expansão do sistema tecnológico.

A tecnologia, tal como a civilização, pode ser vista mais como um processo ou um sistema complexo do que como algo material. Ela depende da divisão de trabalho e da exploração de recursos. Um dos resultados do desenvolvimento tecnológico é o aumento da dependência tecnológica e da mediação da experiência, ou seja, da alienação. A tecnologia não é neutra. Os valores e objetivos daqueles que produzem e controlam a tecnologia estão sempre embutidos nela. Diferente das ferramentas simples, a tecnologia é um processo mais amplo que é propelido por seu próprio ímpeto, tornando-se incontrolável. O avanço cria necessidades próprias e se torna um fim em si mesmo. O sistema tecnológico não pode existir sem genocídio, ecocídio e controle centralizado. A padronização imposta pela tecnificação da vida objetifica e mercantiliza a vida, transformando-a por fim numa morte-vida.

Faz parte dos mecanismos de controle domesticador permitir que escapemos temporariamente dessa realidade, pois afinal ela em si é insuportável.  A civilização produz momentos controlados de contato com a natureza, de rebelião e de aparente liberdade. Não é uma questão de boicotar a civilização. Nós não podemos reformar a civilização, torná-la mais ecológica ou mais justa. Ela está podre até a raiz.

O aperfeiçoamento moral, intelectual ou tecnológico não irá nos salvar. Temos que tornar a civilização dispensável ou nossa própria humanidade se tornará descartável para o avanço civilizatório.

Para expressar em termos simples, a civilização é uma guerra contra a vida.

É quase impossível perceber o quanto perdemos na civilização. Nossos sentidos foram anestesiados, fomos treinados para não confiar em nós mesmos, subjugados pela hierarquia e pela automatização, vivendo em caixas dentro de caixas dentro de caixas… Nós passamos a vida inteira sendo empurrados para um futuro linear que foi cientificamente projetado para produzir consumidores mais eficientes.

A fim de compreender o quanto a civilização é degradante, é necessário que comecemos olhando para suas origens. Não há um “paraíso perdido” no passado da humanidade. Mas o fato é que vivemos a maior parte de nossa existência numa relação intrínseca com a vida natural, num estado de anarquia. Quando isso mudou, e por quê?

O modo de vida forrageador constitui mais de 90% de nossa existência. A humanidade surgiu e assumiu suas características físicas e mentais nesse modo de vida. Hoje, nós nascemos dentro de hospitais, crescemos à base de agrotóxicos, somos formados por um processo de escolarização degradante, formatados para o trabalho sem sentido, e nossas vidas são definidas pelo lugar que ocupamos no grande projeto civilizatório. Cada aspecto de nossa vida mental foi usado contra nós mesmos para nos manter na linha. Estamos entorpecidos e não é por coincidência que todos nos sentimos perdidos e confusos.

Antes do status social, antes do valor individual ser definido pela posição de poder que se ocupa, havia abundância de reconhecimento social. A base do reconhecimento é a capacidade de se integrar à vida. Imagine um mundo onde a relação com a vida ocorre sem mediações, sem regulações e intermediações forçadas. Isto é quase impossível de imaginar hoje. Seria um mundo onde o reconhecimento seria abundante ao invés de escasso, e por isso as pessoas não precisam competir por ele.

As implicações disto são extremamente radicais, porque indica que perdemos acesso a um bem essencial. Consequentemente, precisamos pagar qualquer preço por um substituto para o que perdemos. Mas nenhum substituto parece saciar nossa necessidade profunda por reconhecimento.

Uma vez que a civilização não é uma coisa material, é muito difícil identificar onde exatamente ela começa. A civilização talvez tenha sua raiz na origem da representação simbólica. A cultura simbólica substitui a experiência direta pela experiência mediada. O modo como estruturamos nossa percepção, nossa linguagem, nossa expressão e nossa compreensão, tudo isso aponta para uma súbita valorização da representação e da mediação da experiência.

A cultura simbólica idealiza e normatiza o pensamento, alterando o modo como definimos o que significa pensar, e consequentemente o que significa ser humano. Vai além de simplesmente dar nomes às coisas. Reflete sobre todo nosso relacionamento com o mundo, com nosso corpo e com nossos sentidos. A cultura simbólica produz a sociedade do espetáculo, da alienação e da racionalização desprovida de sensibilidade. A cultura simbólica é tanto resultado quanto causa da civilização, um processo que nos transforma em máquinas e o ponto inicial para qualquer processo de domesticação.

Nas sociedades anteriores ao excedente, não havia conceito de propriedade. Em um mundo sem excedente não há necessidade de propriedade pois todos são capazes de fazer as mesmas coisas e têm igual acesso ao que desejam e precisam. O excedente causou uma ruptura com esta condição natural, tirando-nos do ciclo vital no qual vivem todos os seres vivos, e criando tanto a escassez artificial como a abundância artificial.

O principal excedente é a estocagem de alimentos para o consumo futuro. Sociedades onde a comida é armazenada criam uma massiva ruptura com a satisfação imediata.  A criação de excedentes também requer métodos progressivamente complexos de proteção, transporte, armazenamento e distribuição dos bens. Ao passo que um abismo cresce entre a aquisição e o consumo de alimentos, um abismo também cresce entre aqueles que têm acesso aos recursos e aqueles que não têm. Mudanças sociais radicais ocorrem neste ponto, colaborando na hierarquização social.

A urbanização tende a estar intimamente ligada ao excedente, uma vez que o modo de vida forrageador impunha por si só uma limitação ao estoque de bens. A urbanização é uma especialização da sedentarização, que se refere ao processo se estabelecer numa mesma área por períodos prolongados ou em definitivo.

Forrageadores ocupam uma ou mais regiões sem degradá-las, pois se movem de acordo com a disposição de alimentos, que varia de acordo com as estações do ano, mudanças climáticas e ciclos naturais.

O problema do urbanismo é a tendência de destruir a economia da dádiva, onde tudo é de graça. Surge no seu lugar um relacionamento autoritário que exige controle, produz desconfiança, possessividade e exigência constante de aumento da eficiência de produção. Como num relacionamento abusivo, a cidade simplesmente extrai tudo que pode de uma região até ela não ter mais utilidade, e então entra em decadência, e as pessoas simplesmente a abandonam. Não constroem um laço afetivo com a terra, porque é impossível viver numa terra devastada pelo concreto sem exportar recursos de outro lugar. Social e politicamente, a cidade propicia o aumento populacional e a exigência de controle social, poder centralizado e estratificação social.

Em todas as espécies de mamíferos, notamos que o deslocamento geográfico exerce um papel fundamental no equilíbrio ecológico das populações. A sedentarização humana é mais que uma simples mudança de modo de vida. Ela representa a ruptura com o ritmo e com os ciclos vitais que até então moldaram a vida. A cidade é a base para o excedente material, mas também para o excesso de estímulos que provoca a desorientação cognitiva. Quando as pessoas se tornam cidadãs, elas se afastam do “estado de natureza”, isto é, dos ciclos vitais que nos guiaram por milhões de anos.

Há muitas teorias sobre as origens da domesticação de plantas, de animais e de nós mesmos. Alguns dizem que a domesticação foi iniciada de modo independente em diversas partes do mundo, o corrobora com a ideia de que ela é um resultado inevitável do avanço da história humana. Contra essa teoria, argumentamos que as primeiras formações civilizadas tinham a habilidade de percorrer longas distâncias e cruzar oceanos, entrando em contato com outros povos por meio de ondas migratórias sazonais. Isso significa que não estavam isoladas. Em termos amplos, uma diferença de mil anos entre o surgimento de uma civilização na europa e outra na américa parece pequena, considerando que estamos falando de um passado muito distante. Porém, mil anos é tempo suficiente para que haja algum contato entre ambas as sociedades, o que permite que esse conhecimento seja transmitido. Se essa teoria estiver correta, ela compromete a ideia de um desenvolvimento natural da civilização/domesticação.

A domesticação é amplamente aceita como tendo se originado no Oriente Médio, cerca de 13.000 a 10.000 anos atrás. A domesticação foi um processo relativamente lento. Ela não ocorre simplesmente por se adubar sementes com esterco ou estimular o crescimento de plantas específicas, mas pela modificação intencional de uma espécie por meio de seleção artificial, o que necessariamente substitui características naturais por características que seguem um valor cultural, enfim, um critério de utilidade. A engenharia genética é a consequência lógica da domesticação.

Isso representa uma mudança radical no nosso relacionamento com outros seres vivos. A amizade é substituída pelo interesse. Nosso relacionamento com outros seres se torna abusivo.

Onde surge domesticação, surgem também cultos a representações de forças da natureza. Essas representações justificam a dominação humana sobre os elementos da natureza, servindo tanto como fonte de expiação da culpa. A dinâmica de culpa e redenção é necessária para lidar com a angústia inerente à civilização. A domesticação também transforma o ato de se alimentar em modo de produção, que será tratado como dever moral ou mesmo como a função da humanidade, sua missão na terra ou o próprio sentido da vida.

No campo da antropologia há cinco categorias de subsistência generalizadas: coletores-caçadores, horticultores, pastores, agricultores intensivos e agricultores industriais. A forma de subsistência está diretamente relacionada com a forma sociopolítica que a sociedade assume.

Coletores-caçadores em geral vivem num mundo pré-civilizado, por assim dizer. As decisões não são tomadas por instituições formais. Os problemas são resolvidos pela confrontação direta. Os meios de subsistência são adquiridos e consumidos de acordo com a satisfação imediata. Tipicamente são organizados em grupos pequenos e móveis.

Horticultores obtêm boa parte de sua subsistência do cultivo de vegetais. A horticultura pode ser complementada pela caça, coleta e pesca. Ela se refere mais especificamente ao cultivo, embora animais domesticados apareçam em muitas sociedades horticultoras. Eles tendem a viver em regiões tropicais e são semi-sedentários, vivendo em determinadas áreas por longos períodos de tempo e em seguida mudando-se para outras. A tecnologia é relativamente simples: enxadas, desmatamento e queimadas são técnicas comuns para o cultivo.

Este modo de vida é atormentado pelo crescimento contínuo. A guerra é uma reação à remoção de um limite populacional inerente ao forrageamento, e muitas sociedades horticultoras se consideram também “guerreiras”. O que é importante aqui, afora as questões do excedente e da domesticação, é como a especialização começa a surgir na medida em que as pessoas ficam menos envolvidas com a subsistência direta. A esta altura, há um enorme aumento do papel do tabu, bem como da centralização do poder. O que emerge em resposta a isto é a desconfiança geral entre as pessoas. Há uma guinada em direção ao patriarcado e à institucionalização de certas funções sociais.

Os meios de produção tornam muito importante ter uma linhagem firmemente definida. Este foi um fator fundamental na origem do patriarcado. O que começa como a passagem do status político por meio da linhagem masculina se transforma em um sólido sistema de controle patriarcal.

Pastores são pessoas que vivem de e para seus animais domesticados. De modo geral, os pastores atuam quase como uma especialização das sociedades de cultivo. Estando centrados em padrões animais muito específicos, eles migram sazonalmente em busca de pastagens. Por causa deste processo, eles são, em certo sentido, os primeiros mercadores. Eles negociavam e movimentavam mercadorias de um extremo ao outro de uma região.

A organização social tende a ser muito próxima a dos horticultores. Eles também tendem a ser patriarcais na medida em que suas sociedades são baseadas na propriedade e na herança. Contudo, tal como os horticultores, muitos mantiveram algum mecanismo contrário à formação do Estado em sua cultura.

Agricultores intensivos são aqueles que intensificam o controle sobre a natureza em relação aos horticultores ou pastores. Eles são definidos tecnologicamente pelo uso de fertilizantes, arados, irrigação… Outra caraterística é a mudança de campos de policultura para a monocultura. Este é o ponto onde a civilização realmente começa a tomar forma visível na forma de Estados e impérios, precursores da agricultura industrial.

Agricultores industriais tratam a terra como uma fábrica, usando máquinas cada vez maiores e mais complexas para alimentar a sociedade estratificada que as produz.

Diferentes abordagens da crítica à civilização elegem um desses pontos como pivô do processo civilizatório, e por isso variam em relação a objetivos e propostas. Mas podemos constatar a mudança para sociedades que dependem do aumento do controle sobre os seres vivos. O primeiro passo é a ideia de propriedade, que surge em uma época relativamente recente e que sempre se deparou com alguma resistência. Além da natureza inerentemente autoritária da domesticação, vemos a ascensão das guerras, o desenvolvimento da tecnologia, a criação de cidades e impérios e o colapso iminente dessas sociedades.

A guerra de conquista e aniquilação é inerente ao desenvolvimento da civilização. A guerra total é tanto uma consequência da necessidade de expandir o domínio de terras produtivas para aumentar a produção, como uma medida para limitar artificialmente a população na ausência das limitações naturais. O cultivo dá origem à guerra. O militarismo foi criado primariamente para defender e proteger a propriedade de terra, e posteriormente usado para manter a ordem nas cidades, protegendo também a propriedade privada.

Guerras de conquista e colonização são as condições de existência do Estado. Na medida em que exércitos profissionais se desenvolvem, também aumenta a potencialidade da concentração de poder. Do mesmo modo, quanto mais a tecnologia se desenvolve, mais eficientes são as armas de guerra, e maior a possibilidade de concentração de poder.

Os seres humanos, como muitos animais, sempre usaram ferramentas. Uma ferramenta pode ser feita por uma pessoa com relativa facilidade e não implica num custo a ser pago por gerações ou por outros seres. A tecnologia é o oposto disso, na medida em que as pessoas podem se dedicar a produzir coisas com custos materiais, sociais e ecológicos cada vez maiores. Tecnologia é um sistema que requer uma fonte abundante de recursos materiais e uma mentalidade específica para ser continuamente produzida. Longe de poupar trabalho, a tecnologia apenas aumenta a quantidade de trabalho necessária para viver, o que aumenta também o custo total da vida, enquanto a complexifica e possibilita o surgimento e agravamento dos problemas sociais.

As cidades são uma ocorrência bastante recente e praticamente definem o que é a civilização. Elas são a concretização da domesticação humana, da divisão de trabalho e da expansão do controle sobre os seres vivos. Ao se impor sobre a terra, as cidades também se impõem sobre as pessoas que vivem dentro e fora delas. Cidades dependem de exportação de recursos, não podem viver apenas dos recursos locais, e necessariamente estão em constante expansão. Por isso a vida urbana jamais será sustentável.

Parece apropriado concluir uma breve análise das origens da civilização com um olhar para seu destino aparentemente inevitável: o colapso. Aconteceu em Roma, Mesopotâmia, Egito, Mesoamérica, América do Norte, América do Sul… Cada império cresce somente até determinado ponto. A agricultura que estabelece as bases para o crescimento do império degrada a terra até que as necessidades só possam ser supridas através de vastas redes de comércio, tributação e roubo, e tal império só pode durar até aí. Governos autoritários ou totalitários são a tentativa desesperada de manter o controle sobre sociedades insustentáveis.

A civilização se tornou global e local ao mesmo tempo. Em sua totalidade, ela é dependente de uma sociedade global e industrial que está sistematicamente destruindo a terra, o ar, a água e as condições de vida humana. Mas os conflitos macro se reproduzem na micropolítica, como por exemplo do confronto com o machismo.

O que se pode aprender com tudo isso não é apenas que nossos corpos e mentes anseiam por um modo de vida diferente deste, mas que podemos encontrar formas de resistir à civilização. Nada dura para sempre e a civilização não é exceção. A mineração, as barragens, o desmatamento, o cultivo de grãos e a pecuária são uma verdadeira guerra contra a vida. Essas atividades das quais dependemos totalmente destroem os seres vivos e as pessoas que sempre souberam viver neste planeta. Podemos olhar para as origens da civilização para descobrir como ela se desenvolveu, e combinar este conhecimento com nossos sonhos de liberdade. Outro mundo existiu, e outro mundo é possível!

E agora, o que acontece?

Esperamos que essas considerações ofereçam oportunidades de reflexão crítica e não sejam confundidas com uma simples ideologia sobre como devemos viver. Nesta época atemorizante, a questão da prática está em aberto. Podemos concordar que uma mudança é necessária. Parece-nos que um exame das origens desse desastre em andamento é um exercício digno. Mas eu enquanto indivíduo não posso ir muito longe. Precisamos nos juntar para pensar nisso.

“Nós habitamos a fábrica e a fábrica nos habita. As roupas que vestimos, a comida que ingerimos, os prédios nos quais vivemos, trabalhamos e morremos, os livros que lemos, a mídia que introjetamos, as ideias que pensamos – tudo produzido em fábricas. E, ainda assim, o caos está por toda parte. Até mesmo quando ando pelo terreno estéril do Shopping Center, eu olho para cima e vejo o sol fervendo, as nuvens deslizando, uma revoada de pássaros mudando de direção no céu – e eu sinto os intensos pulsos, fluxos e correntes que fluem através de meu corpo.” – John Moore

Referência:

Back To Basics. Revista Green Anarchy #14, 2013. Disponível em:
https://greenanarchy.anarchyplanet.org/files/2013/09/GA14_back_to_basics.pdf

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