Anotações sobre ecologia da mente
Ruído
Desde 1996, a Organização Mundial da Saúde reconhece a poluição sonora como um problema de saúde pública.
A poluição sonora pode causar alterações fisiológicas no sono, na pressão arterial e na digestão, sendo um dos fatores agravantes do estresse e problemas cardíacos, mesmo quando não é alto.
Por toda história humana, o ruído ambiente era apenas o da chuva, do vento e das pessoas falando. Agora a trilha sonora do mundo é cada vez mais agitada e mais alta.
Vários tipos de ruído se infiltram sem serem percebidos em nosso ambiente mental.
Desde sons repentinos que pioram a ansiedade a estímulos viciantes com efeito anestesiante.
Algumas pessoas não conseguem mais trabalhar ou estudar, ou mesmo dormir, sem ouvir algum barulho.
O efeito do ruído sobre a mente humana é nitidamente prejudicial. Mas por mais incomum que seja o assunto, o ruído ainda é o mais conhecido dos poluentes mentais.
Infotoxinas
O termo infotoxinas se refere à qualidade tóxica de informações que recebemos.
As palavras podem nos tocar de modo positivo ou negativo, especialmente quando estamos mais sensíveis.
Infotoxinas são informações que, mesmo verdadeiras, são apresentadas de modo a gerar ou estimular pensamentos ou comportamentos tóxicos.
Elas miram em fragilidades, traumas, inseguranças e sensibilidades comuns.
Transmitindo medos e compulsões que não conseguimos ignorar.
As infotoxinas podem agir em conjunto, lentamente poluindo a mente com pensamentos perturbadores, que só são percebidos quando já estão bem desenvolvidos.
Graças aos aplicativos de mensagens instantâneas, o alcance das infotoxinas se tornou massivo e muito difícil de ser contido.
Notícias falsas, boatos e sensacionalismos são algumas formas comuns das infotoxinas.
O modo como uma informação é transmitida pode fazer toda diferença.
Erosão da empatia
A erosão da empatia é um dos piores efeitos das infotoxinas.
Ela é estimulada por discursos que alimentam animosidades, desconfianças, inseguranças, incertezas e intranquilidades que destroem aos poucos as condições de convívio.
Quanto maior a precariedade social, maiores as acusações aos forasteiros, os marginalizados e os imigrantes.
Enquanto se fortalece a crença na austeridade como única solução para os problemas, aumenta a impaciência e a irritabilidade na interação, o que diminui a capacidade de convívio saudável com vizinhos, amigos e familiares, e retorna como um ódio ainda maior ao diferente, gerando uma bola de neve.
A erosão da empatia não é fenômeno individual, mas sim social.
Quando infotoxinas são propositalmente espalhadas para gerar uma cultura do ódio e pânico moral, chamamos isso de INFOTERRORISMO.
As infotoxinas do ódio geram dependência porque oferecem uma resposta fácil para a precariedade social.
O discurso de ódio provoca ruídos na comunicação, dificultando diálogos, reduzindo o interlocutor a alguém incapaz de compreender, criando bolhas e fortalecendo o viés de autoconfirmação.
Nesse ambiente tóxico, o diferente vai sendo demonizado e desumanizado, provocando fenômenos de violência e indiferença, banalização e insensibilidade ao sofrimento.
Referências:
BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Capítulo 4: Convívio destruído. P. 145-185. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.
LASN, Kalle. Culture Jam: How to Reverse America’s Suicidal Consumer Binge–And Why We Must. Harper Collins, 2013.
Música:
Penso que trazer esses temas ao debate político é fundamental. Mesmo não sendo 100% partidário das concepções de vocês, o que vocês trazem precisa ganhar cada vez mais espaço. Precisamos repensar a tecnologia em nossas vidas pessoais e na vida social, e quebrar o paradigma do “desenvolvimento”.
Obrigado Pedro, o objetivo é esse mesmo.